Violência nas escolas: o que as crianças e adolescentes estão tentando nos dizer?

A violência no ambiente escolar tem se tornado uma preocupação constante entre educadores, pais e alunos. Dados do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes) apontam que mais de 100 denúncias de agressões e ameaças de estudantes são registradas mensalmente no estado.
“Falhar faz parte do crescer”
Jane Haddad questiona se os adultos têm cumprido seu papel de orientar e estabelecer limites. Para ela, muitos pais e educadores evitam frustrar crianças e adolescentes, o que pode ter consequências sérias na formação emocional.
“Será que estamos ensinando que falhar faz parte do processo de crescer?”, provoca a psicanalista. “Respeitar regras é uma forma de pertencimento ao coletivo.”
Juventude sem freios
Segundo Haddad, há um padrão cada vez mais comum entre os jovens: a busca imediata pelo prazer e a intolerância à frustração. “Um simples ‘não’ desperta em muitos o desejo de eliminar o outro, como se ele precisasse sumir por ameaçar esse prazer”, afirma.
Ela alerta que os adolescentes estão crescendo sem privações e sem a presença de adultos que imponham limites de forma afetiva e responsável.
O adulto que falta
A especialista levanta uma questão importante: “Será que as novas gerações estão à deriva, sem adultos no comando?”. Para ela, muitos pais e educadores estão acuados — seja pelo medo, pela falta de tempo ou mesmo por amor excessivo e desorganizado.
“As escolas não sobreviverão se não dialogarem com a psicanálise. Precisamos entender como as crianças estão vivendo hoje”, diz.
Ilusão de mundo feliz
Na análise de Haddad, jovens vivem em mundos paralelos de prazer e idealização, nutridos por redes sociais e bolhas digitais que reforçam comportamentos extremos.
“Eles estão sendo educados por algoritmos, sem mediação adulta. Isso os isola e os conecta a grupos que alimentam discursos de ódio.”
Violência como grito de socorro
A especialista interpreta os atos violentos nas escolas como um grito. “O que crianças e adolescentes estão tentando nos sinalizar com tanto ódio? Onde falhamos como função adulta?”, questiona.
Ela também destaca a importância de oferecer espaços de escuta, como grêmios estudantis, rádios escolares e ações sociais, para que os jovens possam se expressar e se sentir parte de um coletivo.
A resposta das escolas
Enquanto isso, escolas públicas e privadas têm buscado estratégias para enfrentar o problema. Desde março de 2023, a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) integra o Comitê Integrado de Segurança Escolar, junto à Secretaria da Segurança Pública.
Entre as ações do Plano Estadual de Segurança Escolar, destacam-se:
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Reforço de equipes de psicologia e assistência social
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Programas como “Papo de Responsa” e “Proerd”
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Implantação de tecnologias de monitoramento
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Criação de um manual de policiamento escolar
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Canal de denúncias anônimas (Disque 181)
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Presença ampliada da Patrulha Escolar da Cipe
Rede privada também se mobiliza
Na rede privada, treinamentos de segurança têm sido promovidos em parceria com a Polícia Militar. O presidente do Sinepe-ES, Moacir Lellis, afirma que as ações envolvem análise de ameaças, primeiros socorros e estratégias de resposta a incidentes.
“Essas parcerias têm sido fundamentais para fortalecer a cultura de segurança nas escolas”, afirmou.
E agora?
Diante da crescente onda de violência, Haddad conclui com um apelo à reflexão coletiva:
“Freud já nos alertava: viver em sociedade exige que domemos nossos instintos. Mas será que nossa estrutura familiar e social está conseguindo ensinar isso às novas gerações?”
A pergunta que fica é: seremos capazes de reocupar o lugar do adulto que acolhe, escuta e orienta — antes que seja tarde demais?

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