Vitória recebe “Arte Africana: Máscaras e Esculturas” na Galeria de Arte e Pesquisa da Ufes

Vitória recebe “Arte Africana: Máscaras e Esculturas” na Galeria de Arte e Pesquisa da Ufes

A Galeria de Arte e Pesquisa (GAP), espaço expositivo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), recebe a partir de 14 de agosto a exposição “Arte Africana: Máscaras e Esculturas”, que apresenta ao público capixaba um conjunto expressivo da arte tradicional africana. As peças integram a Coleção África, pertencente à editora BEI, formada ao longo de cerca de vinte anos e composta por máscaras, estatuetas e outros objetos que, além de seu valor estético, possuem funções sociais, religiosas e rituais profundamente enraizadas nas culturas de diferentes povos africanos.

A abertura oficial, marcada para as 17h, contará com palestra no Cine Metrópolis ministrada por Renato Araújo, um dos curadores da mostra. Doutor em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Museu Afro Brasil, Araújo é referência nos estudos sobre arte e cultura africanas e suas conexões com a diáspora. Além dele, assinam a curadoria Marisa Moreira Salles, Tomas Alvim e Danilo Garcia, que estruturaram a exposição para oferecer não apenas um olhar contemplativo sobre as obras, mas também para revelar ao público suas dimensões simbólicas, históricas e antropológicas.

Uma exposição em movimento pelo Brasil

“Arte Africana: Máscaras e Esculturas” já percorreu cidades como Goiânia (GO), Araxá (MG) e Uberlândia (MG). Neste momento, está sendo apresentada simultaneamente em Vitória (ES) e Ouro Preto (MG), com itinerância prevista para o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, um dos polos mais significativos do patrimônio cultural afro-brasileiro.

A circulação da mostra reflete um compromisso com a difusão da arte africana no Brasil, onde, paradoxalmente, essa produção artística é menos conhecida do que deveria, apesar da centralidade da África na formação histórica, social e cultural do país.

O significado das peças

As máscaras expostas — muitas delas usadas em rituais de iniciação, celebrações agrícolas ou homenagens a ancestrais — são concebidas para mediar a relação entre o mundo visível e o espiritual. Seus formatos, cores, ornamentos e materiais obedecem a códigos culturais específicos, variando conforme a etnia e a função ritual.

Já as esculturas, em madeira ou outros materiais, frequentemente representam divindades, figuras de poder, ancestrais e personagens míticos, servindo tanto para culto quanto para a preservação e transmissão de narrativas. Ao lado de objetos de uso cotidiano, essas peças revelam uma cosmovisão em que arte, vida comunitária e espiritualidade estão profundamente entrelaçadas.

A Coleção África

A Coleção África da editora BEI é fruto de uma trajetória de pesquisa, viagens e aquisições realizadas ao longo de aproximadamente duas décadas. Seu objetivo não é apenas preservar peças raras, mas também possibilitar que elas circulem, ampliando o acesso do público brasileiro a manifestações artísticas que são, ao mesmo tempo, patrimônio material e imaterial.

Marisa Moreira Salles e Tomas Alvim, diretores da editora, destacam que o acervo dialoga com uma visão ampliada de cultura: “Queremos que essa coleção ajude a criar pontes entre o Brasil e a África, para que possamos compreender melhor a dimensão e a diversidade dessa herança”, afirmam.

GAP: espaço de arte, pesquisa e formação

Fundada como parte do Centro de Artes da Ufes, a Galeria de Arte e Pesquisa se consolidou como um dos mais importantes espaços de difusão artística no Espírito Santo. Seu programa expositivo é marcado pela diversidade: já apresentou trabalhos de artistas locais, nacionais e internacionais, sempre buscando integrar a fruição estética à reflexão crítica.

A GAP cumpre papel estratégico na tríade universitária de ensino, pesquisa e extensão. Além de receber mostras de grande relevância — como esta sobre arte africana —, é um ambiente de aprendizado para estudantes de artes, museologia, história e áreas afins, que participam de montagens, curadorias e ações educativas.

A coordenadora da galeria, Profª Drª Cláudia França, enfatiza o papel social da instituição:

— “A exposição nos conecta com a ancestralidade africana e nos ajuda a compreender a importância dessa herança para a formação cultural do Brasil. Ao trazer essas peças para dentro da universidade, ampliamos o debate sobre identidade, memória e diversidade”.

Arte africana e educação no Brasil

A chegada dessa exposição ao Espírito Santo dialoga diretamente com a Lei 10.639/2003, que tornou obrigatória a inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar. Exposições como esta oferecem subsídios valiosos para professores e estudantes, favorecendo a construção de um olhar crítico e sensível sobre a presença africana na cultura brasileira.

Especialistas ressaltam que compreender a arte africana é também compreender parte fundamental da arte brasileira, já que muitos elementos estéticos, simbólicos e técnicos trazidos pelos africanos e seus descendentes moldaram expressões culturais que hoje consideramos genuinamente brasileiras, da música à religiosidade, da culinária às artes visuais.

Vitória no circuito nacional

A realização dessa mostra na GAP coloca Vitória em sintonia com grandes centros culturais do país, reforçando o papel da cidade como polo de produção e recepção artística. Ao mesmo tempo, aproxima o público capixaba de um patrimônio que, embora muitas vezes relegado a acervos distantes, é parte de nossa própria história.

Serviço

Exposição: Arte Africana: Máscaras e Esculturas

Abertura: 14 de agosto, 17h, Cine Metrópolis (palestra com Renato Araújo)

Local: Galeria de Arte e Pesquisa (GAP) – Centro de Artes da Ufes, Vitória (ES)

Curadoria: Renato Araújo, Marisa Moreira Salles, Tomas Alvim e Danilo Garcia

Entrada: gratuita

 

Crédito das imagens: Rafael Costa